27/02/11

Um buraco negro

Regresso de um universo onde...

"Tenho a impressão de que certas pessoas, se soubessem exactamente o que são e o que valem na verdade, endoideciam. De que, se no intervalo da embófia e da importância pudessem descer ao fundo do poço e ver a pobreza franciscana que lá vai, pediam a Deus que as metesse pela terra dentro."*

O meu refúgio inicia-se quando deixo pousar a máscara que me obscura a natureza própria e intrínseca, e faco-o cautelosamente de forma a poder utilizá-la no dia vindouro. Movimento-me numa verdadeira feira de vaidades,  na qual cada um encobre primeiras impressoes com monólogos infindáveis sobre alcances e sucessos, em que só se é levado verdadeiramente a sério pelo que se traz no cabaz de conhecimentos pessoais e de títulos coleccionados. Conversas entre indivíduos representam tentáculos corporativos, como se a cultura pessoal de cada um fosse um prolongamento de uma entidade que se julga anónima, talvez por isso tao manipulativa. Lugares comuns preenchem horas. Por vezes, em momentos de menor racionalidade, desvio os olhos do palco e busco o aparelho de clonagem de onde todos estes seres parecem ter sido simultaneamente expelidos. Todos eles se orientam pelo mesmíssimo esquema, equiparado ao que hoje chamamos progresso (logo, carreira) individual, definido pela máxima de um "sempre mais", nao necessariamente um "sempre melhor". A motivacao-mor para o alcance de um objectivo nao é o processo de aprendizagem incluído e sim o bónus financeiro obtido, para nao falar da referencia valiosa num pedaco virtual de papel a que se chama curriculum vitae. 

Busco, de momento, um way out...



* Miguel Torga

12/02/11

Segredos do amago


“I think we’re just gonna to have to be secretly in love with each other and leave it at that, Ritchie.”
The Royal Tenenbaums (2001)

Encontrado aqui. Uma visita vale a pena, a bem do revivalismo momentaneo.

Revolucao? Sim. Mudanca? Huumm...

Mubarak foi substituído pelo exército, "o único poder estável neste momento no Egipto", como noticia um canal alemao de TV. O ditador, com o seu passado militar, foi apoiado financeira e politicamente pelos EUA desde, pelo menos, que chegou ao poder em 1981. Anualmente os cofres egípcios amealham cerca de 2 bilioes de dólares em auxílios (forma politicamente aceite, mas nao correcta; o estado egípcio recebe créditos e nao ajudas, mas como o montante dos créditos é superior às capacidades produtivas da economia do estado dos faraós, vai-se criando créditos para os créditos, e créditos para os créditos dos créditos, etc, o que apenas contribui para um delineamento infinito das relacoes de subserviencia e dependencia de uns em relacao a outros...)... mas onde ia eu... ah, sim, estado-unidenses (esta deve ser a única palavra do portugues brasileiro com a qual estou de acordo!), os quais sao, na sua maioria, aplicados em aquisicoes bélicas aos próprios EUA (se isto fosse uma empresa, nao faltariam dedos a acusá-los de lavagem de fundos...), reforcando as capacidades de artilharia do exército e das forcas armadas. É sobejamente conhecido que sao igualmente os norte-americanos que oferecem treinos por intermédio de forcas especiais a esse mesmo exército.

Estou a tentar raciocinar. Será mesmo que algo mudou?

Testemunhos contemporaneos

"A minha infancia foi diferente da das criancas de hoje. Ao invés de me entreter com brinquedos, brinquei às escondidas nos escombros de uma guerra insana e suicida que o meu povo mereceu perder. Aquando do meu aniversário, fui presenteado pela minha mae com um bolo, feito de tres fatias de pao com manteiga. Um ano mais tarde já tive direito a doce de fruta. Mas as mesmas tres fatias de pao em forma de piramide. Quando regressamos à nossa casa, em 1945, apercebemo-nos de que o prédio tinha sido bombardeado, mas sentimo-nos bafejados pela sorte, tinha sido uma Blindbombe. Da cama matrimonial dos meus pais podíamos avistar as estrelas. Albergamos muitos membros de uma família, da nossa família, a maior parte tinha ficado desalojada. As condicoes habitacionais precárias de que dispunhamos sempre constituiam um aconchego familiar. As nossas janelas nao eram mais do que retalhos de madeira sem vidro. Nao havia gás, luz, aquecimento. Comida era escassa e partilhada. 
Se existe uma culpa colectiva? Sim, o meu pai, opositor do regime, sentiu-se muito sozinho. As vozes reaccionárias foram abafadas pelos traumas da maioria. A ditadura venceu. Sim, também houve vítimas na populacao alema!"

Wilfried, "der sich nach Frieden sehnt", aquele que anseia pela paz.

Fui em busca destes testemunhos que vim...

Egipto livrou-se de um ditador. A atencao mundana necessita de mais cenários. Porque nao este?

11/02/11

Ao que gostaria de me dedicar neste momento...

Para mim, esta mae é a antítese do trabalho... Porém, por mais agradável que seja, nao traz o pao à mesa nem paga rendas no início do mes. E com tanto que haveria por preguicar...

04/02/11

A propósito de símbolos...

We're doomed!

Previamente à invencao do botao "like", ainda havia um esforco intelectual de deixar uma opiniao, um comentário, uma piada, a um postezinho publicado com muita atencao e carinho nas páginas pessoais do Facebook. Na era pós-likeana, os agentes utilizam as capacidades literárias ao mínimo e, quando nao se exprimem pelo click, optam pelos smileys. Será o início do fim da linguagem por palavras?

O maior roubo na história da humanidade

Estou com problemas

Bem perto da uma da manha, apercebo-me da falta da minha liberdade, aquela que me acompanhou durante doze meses deliciosos.
24h nao sao definitivamente suficientes para tudo o que anseio fazer. Devo ter um péssimo time management pessoal ou, em alternativa, as minhas necessidades a saciar pelo sono sao demasiadas, talvez pelo deleite que os sonhos me concedem? Nao sei, mas é um facto que, desde que há tres dias (re)comecei a trabalhar, nao consigo fazer desporto, nao me dedico à blogosfera com alma e frescura, abandonei por completo a minha máquina fotográfica, é-me impossível seguir as notícias (e eu que tanto valor dou às opinioes anti-mainstream, acessíveis apenas após pesquisas intensas), os documentários que povoam a internet passam por mim sem me tocar os sentidos, os livros criam pó e vincos na mesa de cabeceira, cozinhar com inspiracao tornou-se uma obrigacao à fome e deixou de ser um prazer... E tudo sem considerar a hipótese de me ocupar com outras actividades que nao as laborais...
Nao tenho descendencia e nao vejo TV.

Pergunto-me seriamente o que está errado com a minha rotina. Será que só conseguimos realmente viver se nao trabalharmos?

Entrevistas - I

"Ela - Entao esclareca-me um pormenor: no seu currículo registei uma lacuna temporal de dois anos. Nao encontro referencias no documento que me indiquem qual o seu percurso profissional de 20xx a 20xx. Trata-se de uma gralha ou...

Ele - De 20xx a 20xx? Ah, nao estao incluídos? 

Ela - Pois que... err... nao.

Ele - ... (silencio)

Ela - Mas diga-me, basta entao explicar o que fez nos anos esquecidos e concluímos o assunto verbalmente.

Ele - Ah, pois... Entao deixe-me pensar... De 20xx a 20xx... Huumm... 

(segundos de repetido silencio)

Ela - Entao, vamos lá a puxar pela memória. Até 20xx esteve como xxx na empresa xxx, a partir de 20xxx ocupou o cargo de xxx. Nao será difícil lembrar-se do que fez entretanto...

Ele - ... nao sei... nao sei...

Ela - Nao sabe mesmo?

Ele - Pois olhe, tenho mesmo de passar a pergunta. Consultarei os meus documentos em casa e depois digo-lhe alguma coisa por telefone, está bem?"

A conversa e o contacto ficaram por ali.

03/02/11

Diferencas

Depois de um dia pleno de reunioes num dos inúmeros paraísos fiscais desta Europa, fiquei com a impressao de que, se me quiser pavonear com um porta-moedas Louis Vuitton e pumps Valentino em plena pausa de almoco, terei de mudar de país. Na Alemanha seria provavelmente etiquetada de "exibicionista" ou "elitista", isto na versao diplomática...

Efemérides

Que mundo é este em que a futuros parceiros de trabalho sao concedidos uns míseros minutos para se apresentarem como pessoas? Quanto mais rápido, mais eficiente?
De facto, deixou de haver tempo para o mais importante...

01/02/11

A diáspora portuguesa


Apresenta-se, com este mini-documentário, os vários motivos que nos levam a sair do país que nos viu crescer. Peneirando os sinais de arrogancia que nos sao tao típicos quando nos achamos um pouco mais valiosos que os outros por termos estado "lá fora", há imensos outros aspectos que sao focados sobre a nossa cultura e valorizacao da mesma que tornam o filme bastante interessante. Sao, no fundo, as nossas vozes interiores...

31/01/11

A geração sem remuneração

Carta de um recém-licenciado na mesma faculdade que eu a um professor da mesma:

"Bom dia caríssimo professor.
Venho-lhe enviar as condições que me propuseram na entrevista de emprego em (X).
As funções que tinha que desempenhar consistiam em: procurar clientes, convence-los a aceitar propostas de seguros, de vendas de imóveis, de abrir contas bancárias obscuras, resumindo, seria convencer os clientes a assinar um conjunto de serviços financeiros que deixam muito a desejar.
As condições que ofereciam eram as seguintes: teria que me deslocar na minha própria viatura, encontrar os respectivos clientes, tratar dos documentos todos e todas as burocracias a que esses serviços financeiros obrigam, teria que ser eu o responsável caso essas contas bancárias misteriosas [contas de aplicações em produtos estruturados] e serviços não decorressem da melhor forma e, no final ficaria com 15% dos lucros, tendo ainda que repartir esse 15% com a equipa (vendedores) a que iria pertencer.
O entrevistador sugeriu-me que achava por bem contratar-me como licenciado e não futuramente como mestre, pois isso implicaria mais custos, custos esses que para ele seria algo supérfluo. Seguidamente, após o entrevistador ter tentado de todas as formas que eu assinasse de imediato o contrato, comunicou-me que o ordenado base seria de ZERO, pois eu poderia constituir o meu próprio ordenado, dado, que quantos mais produtos financeiros realizasse, melhor ordenado poderia obter. Confrontei-o de seguida, com a situação em que me encontrava, ou seja, uma vez que não conheço a cidade de (X), seria complicada a tarefa de nos primeiros tempos constituir uma carteira de clientes, respondendo-me ele de imediato que caso eu não encontrasse clientes, teria que suportar todas as despesas.
Aproveito também para lhe comunicar que foi esta a minha primeira entrevista de emprego como licenciado, onde o entrevistador me comunicou que estava já constituída uma equipa com outros quatro licenciados, o que me deixou estupefacto, dado que esses outros elementos aceitaram as condições em cima descritas.
Confesso que estou muitíssimo apreensivo e assustado com esta realidade terrível com que me deparei."

Retirado daqui.

Mais um ano...

Another Year, um suceder de estacoes na biografia de um casal que se encontra no Outono da sua vida. Um filme bem britanico, pleno de reality checks, que nos mostra um centro gravitacional de estabilidade onde seres procuram conforto. Um retrato de e aspiracao a felicidade a contrastar com depressao, solidao, perda, tristeza, a inevitabilidade do passar dos anos.
Vale a pena, que mais nao seja pela prestacao genial de Lesley Manville como Mary. Vim hoje a saber que esta actriz foi casada com um dos meus actores preferidos, Gary Oldman.

30/01/11

Que mundo tao parvo

A frustacao colectiva de uma revolucao, cantada pelos Deolinda.



Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
...Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Vídeo retirado daqui e letra conseguida aqui.

Beautiful Scotland, where I lost my heart...


Ye Pow'rs, wha mak mankind your care,
And dish them out their bill o' fare,
Auld Scotland wants nae skinking ware
That jaups in luggies;
But, if ye wish her gratefu' prayer
Gie her a haggis! 

Address to a Haggis, Robert Burns

Eilean Donan Castle, foto tirada daqui.

A coisa decorativa

29/01/11

This Fakebook

Foi criada uma autentica peca de teatro, na qual cada um se apresenta como gostaria de ser e nao como efectivamente é. Onde a performance determina o grau de popularidade (tao importante nas sociedades ocidentais) e vice-versa. Onde se regista uma competitividade latente e inaudível em termos de número de amizades, visitas, comentários, locais visitados, línguas faladas e fotos mais "liked". Um local cibernético onde nao só o avatar como também as emocoes e amizades sao virtuais. Onde infelicidade parece nao poder ocupar um lugar - nao há partilha de fotos que espelham momentos tristes. Um site onde, de tanto nos ocuparmos connosco próprios e a nossa imagem, acabamos por nos alienar de nós mesmos.Vale a pena ler mais por aqui.

O cisne negro de T. Yorke



You cannot kickstart a dead horse
You just crush yourself and walk away
I don't care what the future holds
Cause I'm right here in your arms today
With your fingers you can touch me

I'm your black swan, black swan
But I made it to the top, made it to the top
This is fucked up, fucked up

Coisas que valem a pena



Swan Lake, by Kirove Ballet.

Em caso de interesse por paranóias, doppelgänger, desejos recalcados, arte sexualizada, alucinacoes, substituibilidade, mutacoes e perfeicao sacrificcional, entao opte por isto:

Olhem que nao é só no Facebook...

Hoje, em espera agonizante do metro de superfície que me iria levar ao centro da cidade, reparei num Renault Twingo preto - pois claro, apesar de ainda nao ter percebido porque quase todos os Twingo sao escolhidos nesta cor, um elemento automobilístico destes nao necessita de parecer ainda mais estreito -, que aguardava pacientemente a mudanca de cor destes instrumentos urbanos tao inteligentes que regulam as nossas vivencias denominados semáforos. Caso nao se saiba, aqui na Alemanha todas as matrículas de veículos motorizados (as bicicletas, ao contrário de Portugal, nao precisam de ser registadas - e chamam a isto "civilizacao") indicam em que círculo administrativo esses mesmos veículos foram registados. Temos B para Berlin, HH para Hansestadt Hamburg, E para Essen, BN para Bona, NVP paraNordvorpommern, etc, sendo o número de letras representantes inversamente proporcional à importancia da regiao. Normalmente, as matrículas sao criadas de forma sequencial, mas também as há personalizadas, para o caso de alguém sentir um ímpeto de transmitir mensagens pouco subtis através da sua chapinha móvel. Por exemplo, se a Brigitte Bardot quisesse uma dessas matrículas e vivesse em Berlim, poderíamos imaginar qualquer coisa como B - BB 1934 (ano em que a amante de felinos viu a luz do mundo pela primeira vez). Também se registam casos de criativos automobilistas que gozam o prazer de criar palavras com as suas letrinhas, qual aletria. Como exemplo ve-se amiúde na cidade de Duisburg e arredores algo como DU - KE 1974 ou, consoante as zonas,  MI - CH xxx (mich = eu) ou ainda REG - EN xxx (Regen = chuva) ou N - IX xxx (nix = nichts = nada)... Há quem se faca representar por licencas mais infelizes como x - HH 88, que tanto pode ser uma pura coincidencia como uma demonstracao gratuita de tendencias revivalistas. A este propósito, note-se que existem combinacoes de matrículas que sao evitadas (mas nao proibidas) pelas autoridades tais como HJ (Hitler-Jugend), KZ (Konzentrationslager), NS (Nationalsozialismus), SA (Sturmabteilung) ou SS (Schutzstaffel). Outras como WAF - FE (= arma) ou HEI - L (nao preciso de traduzir...) nao sao atribuídas. S-EX ou SE - XY (normalmente acompanhadas de um autocolante com uma bunny da Playboy na parte de trás do veículo) sao reservadas aos que expressamente queiram circular com este tipo de identificacao nas estradas deste mundo fora.

Mas voltando ao Twingo, fiquei extremamente impressionada com a facilidade com que consegui tracar um perfil biográfico da ocupante do automóvel. Tal como acima descrito, a matrícula compunha um nome (E - VA, a companheira do Adao), formava uma data (1956, a qual, dada o aspecto da Eva, tinha que corresponder ao ano de nascimento) e fazia-se acompanhar por um autocolante em forma de peixe colorido (o que se atribui aos cristaos). Ah, e que deve residir e trabalhar em Essen, ou nao fosse possuidora voluntária (pressupoe-se) de uma carcaca construída para as lides da urbe. Num ínfimo momento fiquei preenchida de informacoes sobre esta pessoa.

E ainda se fala das egotrips no Facebook...

Foto: Aqui

O fim da civilizacao

"Quando se extinguirá esta sociedade corrompida por todas as devassidões, devassidões de espírito, de corpo e de alma? Quando morrer esse vampiro mentiroso e hipócrita a que se chama civilização, haverá sem dúvida alegria sobre a terra; abandonar-se-á o manto real, o ceptro, os diamantes, o palácio em ruínas, a cidade a desmoronar-se, para se ir ao encontro da égua e da loba.
Depois de ter passado a vida nos palácios e gasto os pés nas lajes das grandes cidades, o homem irá morrer nos bosques. A terra estará ressequida pelos incêncios que a devastaram e coberta pela poeira dos combates; o sopro da desolação que passou sobre os homens terá passado sobre ela e só dará frutos amargos e rosas com espinhos, e as raças extinguir-se-ão no berço, como as plantas fustigadas pelos ventos, que morrem antes de ter florido.
Porque tudo tem de acabar e a terra, de tanto ser pisada, tem de gastar-se; porque a imensidão deve acabar por cansar-se desse grão de poeira que faz tanto alarido e perturba a majestade do nada. De tanto passar de mãos e de corromper, o outro esgotar-se-á; este vapor de sangue abrandará, o palácio desmoronar-se-á sob o peso das riquezas que oculta, a orgia cessará e nós despertaremos.
(...)
Alguns homens ainda errantes numa terra árida chamar-se-ão; encontrar-se-ão e recuarão horrorizados, aterrorizados consigo próprios, e morrerão. O que será então o homem, ele que já é mais feroz do que os animais ferozes, e mais vil do que os répteis? Adeus para sempre, carros deslumbrantes, fanfarras e famas; adeus, mundo, palácios, mausoléus, volúpias do crime e delícias da corrupção! A pedra cairá de repente, esmagada por si mesma, e a erva crescerá sobre ela. E os palácios, os templos, as pirâmides, as colunas, mausoléu do rei, caixão do pobre, carcaça do cão, tudo isso ficará à mesma altura, sob a relva da terra.
Então, o mar sem diques baterá tranquilamente nas praias e irá banhar as suas ondas na cinza ainda fumegante das cidades; as árvores crescerão, reverdescerão, e não haverá mão que as quebre e as destrua; os rios correrão nos prados floridos, a natureza será livre, sem homem que a oprima, e esta raça será extinta, porque era maldita desde a infância."

Gustave Flaubert, in 'As Memórias de um Louco'

Surpreendente que ainda haja pessoas a admirarem-se com a incidencia de burn-out

Foto daqui.

26/01/11

Partilhando algo alheio, mas que diz respeito a todos nós...

Este documentário poderá servir determinados propósitos associados ao próprio movimento que representa, no entanto trata-se de uma composicao demasiado relevante no contexto de um cabal entendimento do nosso paradigma economico-social actual para passar despercebida. Nunca é tarde demais para quebrar mitos...

Nao, ainda nao me fartei de citacoes alheias!

"Wenn man unter Ewigkeit nicht unendliche Zeitdauer, sondern Unzeitlichkeit versteht, dann lebt der ewig, der in der Gegenwart lebt." Ludwig Wittgenstein

 Quando se compreender a eternidade, nao como uma infindável duracao do tempo, e sim como intemporalidade, entao viverá para sempre aquele que viver no presente.

Traducao: Minha





Inspiracao musical daqui.

Ironia é...

... quando geralmente se promove a sustentabilidade, a eficiencia e a preservacao. Porque estes sao os verdadeiros inimigos do nosso actual sistema económico, cuja sobrevivencia se basea no consumo cíclico.

"This shit has got to go!" Jacque Fresco

25/01/11

Vodkas e afins

A Leididi indaga, e com razao, o que raios a definicao do estatuto numa plataforma social por intermédio de um nome de bebida alcóolica (sem dúvida, bastante benéfica para combater qualquer tipo de cancro e o tamanho excessivo da figadeira...), que espelha o estado civil da pessoa, poderá sensibilizar alguém para o cancro da mama.
Isto deve ter a ver com aquela necessidade, a mim por vezes compreensível, de pertencer a um todo, mesmo que este seja amorfo, ridículo, bizarro, idiótico, tendencia que só poderá ser cabalmente explicada recorrendo a determinados traumas infantis de rejeicao e nao aceitacao (opino eu).
Ao invés de "vodka laranja" e "mala em cima da poltrona", decidi incluir no status "Vao mas é ao ginecologista em cada seis meses, pá, e parem de me chatear!" 

Devo ter ferido susceptibilidades, de certezinha absoluta. Mas continuo convencida de que a medida é menos contra-producente...

Está um a mais...

... ou alguém me explica em que ordem é que aparecem os candidatos nos bolhetins de voto? Por ordem alfabética nao é...

Foto daqui.

Ironia é...

... quando pensas ter descoberto uma pontinha do sentido da vida e nao teres tempo para lhe dedicar. Porque sonhos nao poem pao na mesa.

Esta re-integracao no mundo do trabalho está a ser mais difícil do que eu pensava...

24/01/11

And now, for something completely different...

A Pink Shrink.

Eleicoes Presidenciais - IV

O problema do sistema nao está nos políticos e sim nas expectativas que alimentamos em relacao a esses políticos.
Com quem ou o que aprendem políticos a ser políticos?

"Chamado monarca absoluto, rei constitucional ou simplesmente primeiro ministro, o candidato que levamos ao trono, ao gabinete ou ao parlamento sempre será o nosso senhor. São pessoas que colocamos “acima” de todas as leis, já que são elas que as fazem, cabendo-lhes, nesta condição, a tarefa de verificar se estão sendo obedecidas. 

(...)

É tão tolo quanto acreditar que os homens comuns como nós, sejam capazes, de uma hora para outra, num piscar de olhos, de adquirir todo o conhecimento e a compreensão a respeito de tudo. E é exatamente isso que acontece. As pessoas que elegemos são obrigadas a legislar a respeito de tudo o que se passa na face da terra: como uma caixa de fósforos deve ou não ser feita, ou mesmo se o país deve ou não guerrear; como melhorar a agricultura, ou qual deve ser a melhor maneira para matar alguns árabes ou negros. É muito provável que se acredite que a inteligência destas pessoas cresça na mesma proporção em que aumenta a variedade dos assuntos com os quais elas são obrigadas a tratar.
Porém, a história e a experiência mostram-nos o contrário. O poder exerce uma influência enlouquecedora sobre quem o detém e os parlamentos só disseminam a infelicidade. Nas assembleias acaba sempre prevalecendo a vontade daqueles que estão, moral e intelectualmente, abaixo da média."

23/01/11

Eleicoes Presidenciais - III

"Ao que nos dizem os troveiros, o candidato Cavaco Silva (e a sua Maria) tem o morgadio do Palacete de Belém por mais uns tempos. O raminho de "democratas" praticantes que se aprestam a colocar a écharpe para ensaiar o novo (ex)reportório cavaquista está em franco movimento. O talento da gente bizarra do ex-BPN, o contágio financeiro da sopa dos ricos do sr. Fantasia & Cia, a prosa enlevada de Lobo Xavier e a pesporrência do arq. Saraiva do Sol – conhecidos trampolinistas - vão dar, certamente, a táctica e estratégia futura para que o dr. Cavaco graciosamente prospere in limine, enquanto o sr. Sócrates pode segurar a comédia a que nos habituou. Duas almas gémeas!"

Eleicoes Presidenciais - II

A propósito da re-candidatura de Manuel Alegre à presidencia da República, lembrei de uma citacao atribuída a Albert Einstein: "Insanity: doing the same thing over and over again and expecting different results."

Eleicoes Presidenciais - I ou O mesmíssimo marasmo de sempre

"Embriagado pela sua saloice, o bimbo de boliqueime esqueceu-se de duas coisas: a primeira, a de aquela imagem do cacique, arrogante, que nunca se enganava, e andava rodeado da pior escória de arrivistas que portugal conheceu, e que queria passar agora pela máscara do avozinho acolhedor, acabou: mal seja reeleito, vai ter de pagar, uma a uma, as favas dos crimes todos, e do beco sem saída para onde nos empurrou. Não se pode desejar pior a um filho da puta, pelo que sou o primeiro a congratular-me com que ele esteja no lugar de exposição do tiroteio que aí vem; a segunda, de que, como já atrás disse, há três estranhos vencedores destas eleições: o povo profundo português, filho da cópula contranatura entre Neanderthal e Cromagnon, e que gerou esta permanente distrofia entre o desejo e a culpa, que levará, dia 1 de fevereiro, renato seabra a ser declarado um estudo de caso, e a posse do seu cérebro atrofiado e degenerado por 900 anos de mães de bragança e cantanhede, de interesse científico para a sociedade americana; os comprimidos do professor lobo antunes, que, por mais miraculosos que sejam, duvido que se aguentem cinco anos, e aí vamos ver o cavaco a ter ataques atrás de ataques, até que tenha de suspender o mandato; e, por fim, o grande vencedor destas eleições, Sócrates, que, qual fénix, e tenho de lhe tirar o chapéu, vai fazer gato sapato da múmia de boliqueime, quando os portugeses acordarem, e perceberem que têm de se escudar nele, para impedir o neosalazarismo que a criatura pensa poder vir a ser o seu segundo mandato. Como poderia trocadilhar, foi ao golfo buscar sarna para o outro se qatar."

Em dia de eleicoes...

"O pior analfabeto é o analfabeto político, ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não conhece o custo dos alimentos, o preço do feijão, do peixe, da farinha, da renda, dos sapatos e da medicina, tudo depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que orgulhosamente infla o peito e diz que odeia a política. O imbecil  nao sabe que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os ladroes - o político vigarista, corrupto, lacaio das empresas nacionais e multinacionais."

Bertold Brecht

Ideia retirada daqui.

22/01/11

Há dias assim, ...


... cinzentos, chuvosos, bucólicos, contemplativos, separatistas, em que nos afundamos na solidariedade oferecida por olhares de graffitis urbanos...

Foto: minha.

19/01/11

A tal da discriminacao positiva

Se nao há necessidades, criamo-las. O mercado está inundado de exemplos, desde os utensílios de cozinha até ao spray para sapatos. A pujanca das ideias e a criatividade humana alimentam a máquina dos sonhos nos quais se baseia a nossa estrutura social, onde cada um assume forcosamente uma determinada funcao, bem delineada e etiquetável, susceptível de arquivo rotular, porque afinal somos aquilo que fazemos (nao é assim?).



Alguém, neste panoptikum de mentes iluminadas, se lembrou de que hoje em dia há mulheres com confianca suficiente para criarem o seu próprio negócio e que estas senhoras com fundos e coragem talvez precisem de um auxílio profissional, de um guia conselheiro que lhes indique que passos a seguir aquando da fundacao de uma empresa própria. Foi a hora do nascimento do "Faca voce mesmo - Como criar a sua própria empresa, sendo mulher". Basta consultarmos a Amazon.de para verificar que o mercado está inundado de edicoes puramente destinadas a elementos do sexo feminino, redigidas pelo próprio, ou seja, de carácter muito insider. Fiquei curiosa em saber o que difere no processo de criacao de uma empresa no caso de o detentor da ideia ser um gajo. Será que as autoras oferecem guias psicológicos adequados aos dias especiais do mes? "Capítulo 2: Como evitar visitar o Registo
Nacional de Pessoas Colectivas em época de síndrome pré-menstrual?".
Este tipo de auto-discriminacao transcende-me completamente. Nao pertenco ao grupo de indivíduos que recusa aceitar diferencas nos sexos (essas sao mais do que óbvias, principalmente as anatómicas), como nao me sinto parte do grupo que defende que mulheres sao mais sensíveis e homens mais práticos por nao ser a favor de generalizacoes. Mas definitivamente nao pertenco ao grupo daquelas mulheres que, em qualquer circunstancia, se auto-promovem (ou auto-destroem) por intermédio do sexo com que nasceram. Como as autoras e as consumidoras de livros assim.

18/01/11

Para um dia em que precise de uma melodia para me eriçar os nervos...




If I had my way
You would still be stuck on me
But when I rock myself to sleep
I dream of you again


O nome desta banda lembrou-me um episódio de Curb Your Enthusiasm, em que Larry foi encumbido de compor as últimas homenagens a uma tia (aunt) para póstuma publicacao num jornal e o redactor trocou o "a" por um "c"...

Há coisas que verdadeiramente me enternecem...


SUN CITY PICTURE HOUSE from David Darg & Bryn Mooser on Vimeo.

Pensando bem, nao há nada que falsamente me enterneca. O pecado da transparencia...

Muitas informacoes sobre o The Sun City Picture House aqui. E quem achar que os artistas nao ganham o suficiente para suportar milhoes de projectos destes por todo o mundo por precisarem de viver como a Barbra Streisand, pode ir aqui e doar uns centimos.

Caminharemos de Olhos Deslumbrados



Caminharemos de Olhos Deslumbrados

Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.

Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.


Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'

15/01/11

Sou uma verdadeira antiguidade...



Retirado daqui.

A Era da Abdicacao Voluntária da Esfera Privada

Nao sei se já repararam que nós, bloggers, somos vítimas da nossa própria negacao à esfera privada. Ao terminar um post e publicá-lo, somos transportados para uma página intermédia onde nos é perguntado qual o passo que desejamos seguir. Normalmente ignoro as várias janelinhas que aparecem à direita e à esquerda e clico quase que automaticamente na opcao "mostrar blog". Em resultado de umas leituras que tenho feito ultimamente sobre Scraping, hoje reparei pela primeira vez que o Google me conhece melhor do que o desejável. Senao, vejamos. Nessa mesma página inofensiva, aparece normalmente uma janela (in)discreta do lado direito onde se podem vislumbrar ofertas e publicidades. Se repararmos bem, esses anúncios nao nos oferecem algo que nao nos diz respeito, antes pelo contrário, parecem até bem personalizados. Pois bem, é isso mesmo que plataformas como Facebook e Co. fazem com os nossos dados. Nao os vendem directamente a empresas, mas disponibilizam, através de teias cibernéticas e a aplicacao de muitas cookies, os nossos comportamentos, gostos e interesses cujo rastro vamos deixando apenas por surfar a internet. Nao foi, entao, por mero acaso que os anúncios do Google de hoje me ofereciam viagens a precos atractivos para Portugal, restaurantes a apresentarem descontos na cidade onde resido, conselheiros informáticos para o caso de ter problemas com o meu PC (o que, de facto, aconteceu há umas semanas) ou sapatos Luís Onofre (sim, já cometi o erro de encomendar sapatos na net, correu mal...). 

Só espero que um dia nao me aconteca o mesmo que ao Josef K.

Visita inesperada

A minha cozinha foi visitada por uma minhoca verde viva! Melhor dizendo, uma miscelanea entre minhoca menos apetitosa e bicho da seda rubicundo. Foi necessário, para tal suceder, comprar uma espécie de couve-flor a um comerciante biológico de mercado de rua. Já nao me lembrava de tocar na pela macia e esponjosa de uma minhoca da seda há bastante tempo. Ao meu rocar de dedos leve e inseguro, respondeu com contorces e fingimentos, permanecendo imóvel durante diversos segundos (dissimulada, como se eu nao a tivesse visto a mexer-se!). O que fazer? Atirar da janela para uma queda suicida auto-induzida nao me pareceu adequado, afinal de contas a chuva torrencial que se fazia sentir decerto que eliminaria qualquer possibilidade de sobrevivencia de uma minhoca num telhado escorregadio de um prédio de vários andares (e nisto fazemos de conta que o ser precisa do meu auxílio altruísta para sobreviver...). Ainda me ocorreu incluí-la na minha dieta crudívora do momento, mas tal nao pertenceria à minha outra estratégia vegetariana. Fui piedosa, deitei-a no compartimento do meu caixote de lixo organico, nutrientes nao lhe faltam.

E podia jurar que lhe ouvi um "Danke schön" a transpor-lhe os poros... Só espero que amanha, ao abrir a tampinha, nao me saia de lá uma borboleta. Iria ficar mal com a minha consciencia.

Enquanto...

... insistirmos, como aqui, em frisar as diferencas, estas nao irao deixar de existir. É destas discussoes que se alimenta o ego separatista discriminatório. E que me perdoem as suffragettes e as feministas de 68. E nao, nao irei deixar de usar soutien, antes do feminismo já actuava a lei da gravidade!

14/01/11

E assim andam as repúblicas...

Enquanto Portugal se debate com mentalidades medievais em relacao ao interesse ou à vontade - ou melhor, a falta dele(a) - por parte das empresas em contratarem mulheres com descendencia (e eu que pensava, na minha ingenuidade feminina, que afinal a vida se tratava disso mesmo, de uma continuacao, de uma garante da propagacao da espécie, mas, pelos vistos e de acordo com 75% dos responsáveis portugueses de recrutamento na empresa, afinal nao será bem bem o caso... Momentos intensivos estes em que um mito é arrasado...), a Alemanha enfrenta problemas com o términus da vida. Sao já mais de 2 milhoes as pessoas idosas que necessitam de cuidados intensivos de saúde, em 20% dos casos administrados por familiares que, por razoes humanistas ou financeiras, nao as querem "despejar" em lares de acolhimento.

Também hierzulande as entidades empregadoras, salvo raras excepcoes, pouco ou nada apoiam estes casos. Ora, empresas nao sao corpos disformes, sem caras ou nomes. Isso sao os mercados, em funcao dos quais as decisoes sao tomadas. Há pessoas, de carne, osso e alma, que optam, assinam, delegam, decidem. Opcoes de curto prazo e intolerancia, como se nós, os seres humanos, nao estivéssemos condenados a viver mais, quaisquer que sejam as circunstancias.

Quando e porque comecámos esta desumanizacao dos paradigmas sociais e das mentalidades?

E nem a propósito....




This is a cold war, do you know what you are fighting for?

Assuntos a investigar

Estes sao anos de descoberta! Julgo ter aprendido mais do mundo num ano sabático do que em cinco anos de esforco laboral.

Hoje, pela primeira vez na minha vida, recolhi referencias a um tal de Grupo (ou Clube de) Bilderberg. Pelos vistos, todos os anos há uma reuniao de altos e prestigiados elementos das esferas representativas da nossa sociedade na qual se discute... se discute... Ora, ninguém sabe o que, dado que nao há registos mediáticos nem sequer protocolos do que se diz, relata, opina e decide durante essas conferencias. Acredito que nao falem do tempo que está lá fora nem da música que ouviram no elevador do seu hotel de cinco estrelas a caminho da reuniao. Creio piamente que um grupo onde figuras como Donald Rumsfeld e Peter Sutherland sejam membros activos nao poderá ter outros intuitos que nao os de manutencao e expansao de círculos de poder.

Em estilo wikileakiano, Daniel Estulin, um jornalista investigador espanhol e, como ele próprio se intitula, descobridor de mistérios, lancou um livro sobre a verdadeira história do Clube de Bilderberg. Será uma obra a adquirir o quanto antes.

A cortina subiu, o palco apresenta-se, os dancarinos pululam orquestrados por uma coreografia instrumentada. A corrida à corda comecou. Quando cairá o pano?

5 segundos

É o tempo durante o qual se pode financiar a aquisicao de nova dívida pública alema com 14.250 euros.

Fonte: Der Spiegel

12/01/11

Distraccoes...

Há cinco dias que nao posto. Mesmo sem emprego, o tempo voa por mim. Adormeco com a sensacao de que nao abarquei o mundo como deveria ser. Vou-me entretendo com informacoes. Desde Dezembro que nao como carne e desta segunda-feira para cá comecei uma dieta crudívora por uma semana. É assustador o quanto desconhecemos sobre a nossa própria dieta alimentar. A alimentacao nao é apenas uma actividade paralela que nos acompanha, mas algo de fundamental que nos torna aquilo que somos e seremos. You are what you eat.
A experiencia é extraordinária, através da qual se consegue estabelecer um maior contacto com o próprio corpo. Aprendemos a ouvi-lo, a senti-lo, a testá-lo, a explorá-lo, interiormente. Um regresso aos primordios, quando nao havia abundancia e nós eramos obrigados a reduzir consumos e a encará-los como necessidades e nao passatempos ou luxos. A racionalizacao dos meus hábitos tornou-se para mim imperativa.
Talvez esta aventura nao me torne uma pessoa mais fácil, mas decerto mais equilibrada e consciente.

07/01/11

Video resurrects art!

O optimismo vai-se esbatendo aos poucos...

Escandalos, podridao, ganancia, favoritismo, perdas involuntárias de privacidade. Para quando a revolucao? Enviem um mail, que eu vou lá estar...
Balanco da primeira semana (alguns eventos sao recorrentes, outros já provenientes pelo menos do ano que findou...):
  • A Fraude do Século (eu diria mesmo dos séculos, que isto já dura há mais de 10 anos...) ou como o ainda e seguramente (a nao ser que os eleitores portugueses decidam comecar a época da mudanca por aqui, o que, sinceramente, nem com muitos narcóticos no bucho acredito) futuro presidente da nossa república lucrou 150% com a venda de umas quantas accoes nao cotadas na bolsa - taxas de ROI perfeitamente a par das practicadas nos mercados. Claro que os impostos sobre o rendimento foram todos devidamente pagos, o nosso chefe da nacao, benz-ó deus nao é evasor e pessoa mais honesta ainda terá de nascer (o tal do Jesus de Nazaré deve-se ter revirado todinho no túmulo escondido onde descansa...). Sem comentários;
  • O país que actualmente e durante os próximos seis meses preside à Uniao Europeia aprova uma nova legislacao quanto ao exercício da liberdade (ou, melhor dizendo, perda dela) de expressao na imprensa nacional, que permite ao governo emitir pareceres e exercer censura sobre tudo o que é publicado, incluindo a imprensa PRIVADA. Tal só terá sido possível por o partido - diga-se, de tendencias um tanto ou quanto extremas de direita, mas precisamente por isso os seus congéneres europeus de bancada (como a Alemanha ou GB) ter-se-ao pronunciado e ouvido assim, muito baixinho - que dirige o destino da nacao ganhou as últimas eleicoes legislativas com maioria absoluta. Às tantas, e como sobejamente acontece, ninguém lhes leu o programa eleitoral... Victor Orbán, o chefe de governo, já veio assumir publicamente que estará disposto a fazer concessoes e alterar a legislacao, em vigor desde o primeiríssimo deste ano, se e quando outros países da EU o fizerem. Pelos vistos, o próprio Vitinho terá afirmado uns dias antes que nem em sonhos pensaria em proceder a qualquer tipo de modificacoes. A ele desejo bons sonhos e menos pesadelos;
  • Após termos sido bem-sucedidos na obtencao de um assento no conselho de seguranca da ONU , eis que comecam a ser divulgadas as primeiras prestacoes do pagamento. O governo, em oposicao ao que actualmente é discutido entre a UE e os Estados (des)Unidos das Américas, decide estabelecer um acordo bilateral (ah ah, uma das piadas da semana) com os friends do outro lado do oceano que preve o facultamento dos dados contidos nos nossos Cartoes de Cidadao ou Bilhetes de Identidade, incluindo aspectos biométricos, morada, filiacao e altura! A mim ninguém me perguntou nada! Mas porque carga de água tem os nossos ministros de se antecipar a decisoes comunitárias, que só ainda nao foram tomadas por razoes que se prendem com preocupacoes a nível de manutencao da esfera privada de cada um?? E que eu saiba, Portugal nao está incluído em nenhuma lista de países que alberguem redes terroristas (com excepcao das que actuam off-shore tipo Madeira ou Ilhas Cayman). Se os paranóicos do outro lado quiserem arquivar os meus dados quando eu os VOLUNTARIAMENTE visito, tudo bem, agora assim... Mas lá estou eu a seguir a tendencia de acusar o amante e nao o meu parceiro: o meu governo, mais uma vez, abusou da minha confianca. E, mais uma vez, provou estar acima de qualquer lei, mesmo comunitária;
  •  Na Alemanha mais um escandalo ligado à indústria alimentar vem à tona. Já há muito que os pintainhos alemaes, assim como as vacas, nao veem um grama de erva à frente. Os seus nutrientes sao compostos de elementos como cereais e proteínas tais como a soja (com sorte, nao provenientes de culturas geneticamente modificadas), isto para mencionar apenas a maioria. De acordo com a legislacao alema, a indústria pode utilizar cerca de 350 elementos para fabricar os alimentos para os animais que farao, a dada altura, parte da nossa cadeia alimentar. A lista, já de si, é bastante complexa, entao imagine-se como a realidade será se juntarmos os milhares de fornecedores que contribuem com os seus componentes para que se atinja o produto final. No seio desta cadeia interminável foram detectadas nas últimas semanas toneladas de alimentos para animais que continham quantidades demasiado elevadas de dioxina, substancia química cancerígena. Enquanto que os produtos já assumiram a forma de carne de porco, leite de vaca ou cabra, ovos de galinha ou frangos de churrasco (e o consumidor já os terá servido à mesa ou conservado no frigorífico), a prioridade das autoridades tem consistido em afastar quaisquer sombras de responsabilidade próprias e nenhum dos fornecedores admitiu em público condutas erróneas. E assim funciona um sistema com base no auto-controlo da indústria. E ainda há pessoas convencidas sobre os benefícios do liberalismo? Nao me venham com tretas.
  • E por falar na indústria alimentar, tornou-se de conhecimento público via WikiLeaks (e agora gostaria mesmo de ouvir as vozes de protesto contra os novos hackers) que os EUA - mais uma vez, os paranóicos - tem vindo a exercer pressoes sobre a UE por intermédio da Espanha (o seu maior aliado na proliferacao de produtos geneticamente modificados) e, pelos vistos, até o próprio Vaticano (uma das instituicoes mais badalhocas e vendidas de todos os tempos) de forma a conseguir uma liberalizacao das leis concernentes às plantacao e utilizacao de culturas GM. Um velho amigo - a Monsanto, uma das empresas norte-americanas mais influentes da política no Senado e no Governo - vem mencionado na corrente. A guerra nao é conduzida no Afeganistao, e sim numa qualquer quintarola perto de si. E quem ler o leak, até pensa que a verdadeira ameaca é a proibicao de cultivos tecnologicamente modificados e nao o oposto, uma ciencia pouco explorada e sem quaisquer dados indicativos sobre reaccoes humanas e naturais a tais produtos de origem artificial. A este propósito, aconselho vivamente o filme Food Inc., um dos que, quanto a mim, deveriam ser obrigatórios em qualquer escola pública. 
  • E, enquanto uns nao podem cobrar taxas tributárias extraordinárias por falta de uma portaria - sim, como o tempo passa depressa, ninguém nos avisou -, outros decidem aplicar uma nova lei que inclui impostos sobre o rendimento de bruxas, cartomantes e visionários. Foi o que sucedeu na Roménia. Ora, há quem fale já que o governo romeno está sob feitico e mau olhado. Prevejo um futuro incerto.
E nao só para a Roménia...

Ah, já desejei Bom Ano?

05/01/11

O Planeta de Plástico - A experiencia pessoal

Viver sem plástico nao é nada fácil. Apenas quando nos consciencializarmos de que temos o poder colectivo nas maos para exigir alternativas, nada mudará. Embarquei na experiencia de tornar o meu mundo livre de plástico, mas vejo que prescindir do mesmo significa deixar de adquirir determinados produtos enquanto a indústria nao apresentar solucoes que nao passem pela utilizacao de PVC, PET e outros parentes que tais. Se repararmos, de olhos bem abertos, e para tal basta apreciarmos o colorido dos nossos supermercados, mesmo os biológicos, como hoje em dia o uso do plástico se tornou de tal forma generalizado que nao há meio de fugir-lhe, a única reaccao possível será a de sufoco. A minha primeira investida em remover o plástico da minha vida foi executada num local de consumo estandardizado, nao bio, portanto. O resultado está à vista: nao consegui comprar salsa a vulso e sim num envólucro minúsculo que abafa as folhas, o queijo estava já envolvido em papel celofane mesmo antes de ser pesado, o iogurte com sabor a mirtilho apenas é oferecido numa embalagem de plástico (e nao em vidro, como tantos outros), assim como nao havia laranjas biológicas sem a rede colorida dada a ausencia de oferta do mesmo fruto ao quilo. Aliás, todos os produtos qualificados como biológicos sao vendidos neste supermercado já empacotados, o que me leva a crer que se trata de uma manobra de diferenciacao de forma a evitar as habituais burlas de compras de gatos por lebres. Mesmo o pao de cereais, algo que nao se vende em Portugal, ou o pao fresco apenas podem ser comprados quando transportados em plástico (as solucoes de papel, mais favoráveis ao ambiente, parece nao servirem na maior parte dos casos), sendo a única excepcao compras nas padarias - se é que se pode chamar a locais que recebem o pao previamente confeccionado e cuja responsabilidade consiste apenas em colocar as carcacas no forno verdadeiras padarias.
Como se pode ver, o esforco terá sido frutífero - no caso de legumes ao quilo, deixei de usar sacos de plástico, como foi o caso do nabo, das cenouras e até mesmo dos tomates, e estar-me-ei bem borrifando para como irao resolver o problema quando eu tiver que comprar mais do que uma unidade de cada legume - mas nao completamente satisfatório dado que uma eliminacao a 100% nao terá sido de longe praticável.
Próximo teste: o supermercado biológico.
A experiencia continua... 

Foto: Minha

A minha vida é um livro aberto

A urgencia com a qual algumas pessoas postam fotos dos seus natais e passagens de ano nas redes sociais faz-me pensar que o objectivo final das celebracoes e da correspondente documentacao fotográfica dos acontecimentos já há muito que parece ter deixado de constituir o próprio evento em si para ter passado a ser a divulgacao das mesmas em plataformas cibernéticas. Apenas espero que os sorrisos e esgares que se apresentam nao sejam tao de plástico como o keyboard do seu computador...

Indigencias

Este post suscitou-me curiosidade sobre uma tal de fadista apoiante oficial da candidatura à presidencia do mais político de todos os candidatos - a qual, miraculosamente, tem visto o seu número de actuacoes públicas em nome de Portugal aumentar desde essa altura, mas será melhor parar por aqui, nao me venham acusar da tao habitual e quotidiana má-língua portuguesa, apenas devida a sentimentos de inveja e cobica, pois, pois -, pelo que decidi investigar a referida página na net. Qual nao é o meu espanto quando me apercebo que tenho, pelo menos, quatro amigos de rede social (tres da vida real, um apenas virtual com quem gosto de discutir por normalmente defendermos posicoes perfeitamente antagónicas) a facebooquianamente "gostar" da coisa. Pressuponho que o sentimento nao se refere ao design do site e sim à própria candidatura em questao. É óbvio que a candidatura à presidencia da república é dotada de um carácter político-partidário, tornando-se raro registarem-se candidatos independentes e sem qualquer filiacao partidária (apesar de, como é óbvio, cada um deles, mesmo os próprios independentes, demonstrarem tendencias ideológicas que normalmente, mas nao necessariamente, ou nao houvesse a possibilidade do voto em branco, se espelham na atribuicao do voto a um determinado partido). Quanto a mim, e talvez seja ingénuo da minha parte pensar assim, a eleicao do presidente da república tem um cariz muito pessoal já que mais directa nao poderia ser. Eu nao estarei a votar apenas num partido ou numa ideologia (hoje em dia cada vez menos delineada) ou num programa e sim na representacao do país por parte de um cidadao, uma pessoa, com suas qualidades, virtudes, defeitos e posicoes públicas assumidas. Perante tudo o que sabemos sobre a pessoa Aníbal, Conde de Boliqueime (e atencao que sou uma feroz admiradora do reino dos Algarves), os seus jogos de poder e sabotagem, a sua incapacidade de envolvimento e inspiracao de uma nacao, os seus dons de se imiscuir, sem querer intervir, em assuntos exteriores à sua responsabilidade, o favoritismo com que premiou lacaios, os quais, à custa dos contribuintes, continuam à solta, o balanco desastroso dos seus anos de governacao para com o país que agora tanto idolatra (pfff...), o enriquecimento ilícito de que presentemente é acusado, acusacoes às quais responde profundamente irritado como se a sua figura por acto divino estivesse acima de quaisquer suspeitas, o colaboracionismo, ainda que latente, com o regime salazarista, o aproveitamento do tema da pobreza em favorecimento da sua campanha, enfim, com tudo isto, nao posso compreender que haja pessoas no meu círculo de amizades que ainda "gostem" disto e o declarem publicamente. Sou favorável à liberdade de expressao, mas nao quer dizer que tenha que entender a forma como as pessoas racionalizam determinados temas, ainda para mais quando lhes atribuo capacidades pensantes.
E nao, este post nao tem nenhuma conotacao política.

Sabemos que comecámos a pertencer a outro mundo de tradicoes...

... quando dedicamos os primeiros segundos de um novo ano à contemplacao de fogos de artifício - quanto a mim perfeitamente supérfluos e enervantes -, ao invés de religiosamente ingerirmos doze passas e simultaneamente desejarmos algo junto do génio do fortúnio.