Mostrar mensagens com a etiqueta WikiLeaks. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta WikiLeaks. Mostrar todas as mensagens

20/12/10

E é isto o símbolo do progresso?



Mais um exemplo da qualidade da estacao televisiva Fox. A headline que envolve a notícia sugere a ideia de terrorismo tecnológico e está presente na maior parte do debate, se é que se pode denominar este momento negro da agencia televisiva um debate, quando todos os convidados oradores sao portadores da mesma opiniao.
Bob Beckel, anafado comentador da Fox - representante da espécie Trump, sem pescoco e com tez capilar muito natural - e o mais radical nas suas opinioes, defende uma sentenca de morte para Julian Assange, apesar de ele próprio frisar ser contra a pena de morte. Guedié

"A dead man can't leak stuff. This guy is a traitor, he is treasonous, and he has broken every law of the United States. And I am not for the death penalty, so there is only one way to do it: illegally shoot the son of a piii!"

As referencias a Assange sao deveras criativas, passando do  "This little punk!", "The guy with the laptop" até ao "blackmailist, extortist, terrorist". Ah, a palavra mágica - terrorismo, que tanto tem desculpado e ocultado desde 2001. Aliás, esta deveria ser mesmo a palavra do século.

As actividades de espionagem da CIA sao aceitáveis porque já há muito conhecidas, ao contrário das actividades da Wikileaks.

Nem o ditador da Coreia do Norte escapa às ofensivas verbais. "North Korea is one of the most dangerous things hapenning right now! With his little psycho b*** and his fat little son who was at Disneyworld over there! This guy is ready to go off at any time!"

O que julgar de um país onde tais barbaridades proferidas em público podem passar ilesas? Onde comentadores políticos se julgam no direito de incitar a populacao à violencia e condenar um cidadao à pena de morte? Onde a palavra "bitch" é censurada e nao o incentivo à justica pelas próprias maos por via da agressao? Onde a liberdade de expressao permite facínoras pagos pela economia privada advocarem o abate de um ser humano e nao a revelacao de segredos de Estado pertinentes para uma opiniao pública propositadamente mantida na escuridao durante - pelo menos - quase uma década?

And this is what we call civilization?

16/12/10

A nuance da legalidade

Espionagem constitui um pilar na forma de funcionamento institucional das sociedades de hoje. É conhecido que todos os estados, sejam eles democracias ou ditaduras, utilizam os seus espioes (nao é por acaso que muitas vezes nos referimos a esses tentáculos alargados do estado como agentes secretos, ou seja, a quem é reconhecida uma legitimidade de existencia) na obtencao de informacao que lhes interessa. Espionagem é considerado algo pouco lícito, escondido, envolvido em secretismos, códigos de conduta, honra e comunicacao, miscelaneas de identidades, residencias, funcoes, disfarces. Há relatos de influencias espionísticas em qualquer acontecimento de grande porte da nossa história (Primeira e Segunda Guerras Mundiais, Revolucao Bolchevique, Guerra Fria, derrubes de ditadores na América Latina, Queda do Muro de Berlim, para mencionar apenas alguns). Os primeiros indícios da existencia de espioes remonta mesmo ao Antigo Egipto. Os métodos de obtencao de informacao por parte de instituicoes como a CIA ou o extinto KGB passa(va)m invariavelmente por infiltracao, camuflagem, uso de agentes (especiais, duplos, triplos, ...), permutas em troca de meios financeiros, redes de contactos,  prática de hackering, na epiderme da sociedade. 
Todas estas técnicas sao permitidas e geralmente aceites, porque executadas em prol de um bem comum: a defesa dos Estados.
Pergunto-me entao porque se ignoram os paralelismos com os métodos utilizados por WikiLeaks (ou outros whistleblowers) e se considera mesmo acusar esta organizacao de espionagem "ilícita". Nao o é toda? Já nos esquecemos do grande incidente diplomático aquando da descoberta de uma rede de espionagem russa nos EUA? Com uma leveza verdadeiramente extraordinária, o evento foi digamos que quase abafado e os agentes terao sido expatriados para a terra que os viu nascer como bufos de profissao. E nao será uma arte de espionagem quando, como em Berlim, o embaixador dos EUA usa a colaboracao servical do chefe de gabinete de um dos partidos que agora compoem o governo de coligacao alemao para se inteirar das prioridades internas governamentais ou mesmo sobre o andamento das negociacoes no seio da própria coligacao?
Assim, o alarido à volta da WikiLeaks torna-se facilmente pura hipocrisia. Se condenarmos os free lancers, teremos que aplicar os mesmos critérios aos que tornaram isso a sua profissao. Os Estados somos nós, os cidadaos, e nao as estruturas que o circundam. A verdadeira liberdade consiste em poder formar uma opiniao com todos os elementos disponíveis. E, agora que conhecemos a sensacao, será difícil, tal qual droga, prescindir da mesma.

02/12/10

O momento em que os esclarecidos se tornam cegos

Nao nos faltam vozes revolucionárias, por vezes ultra-reaccionárias, que estao sempre dispostas a vociferar contra tudo o que esteja classificado de "sistema" ou "regime", que continuamente poem em causa o que nos parece a forma natural de funcionamento das coisas, que protestam com accoes e mobilizacoes e se movem em todos os meios de comunicacao (e aqui nao me refiro puramente aos media e sim a todos os instrumentos ao nosso alcance susceptíveis de utilizacao para fazer trespassar uma qualquer mensagem) de forma a se fazer ouvir e sentir, alimentando o contágio pelo espírito liberto e sem limites ou medos de questionar seja o que for que nos parece dados adquiridos. Sao a nossa consciencia, espelham os nossos receios e emocoes, provocam paradigmas institucionalizados, dao a cara, arriscam a sua própria existencia sob a forma de corpo ou simplesmente nome.
Sao tao contra que, na maioria das vezes, se tornam a favor de qualquer coisa, ainda que antagónica em relacao ao que atacam e tentam fragilizar. E, por vezes, fazem-no de forma cega e seguidista, sem aplicar a capacidade lógica de raciocínio que lhes deveria ser subjacente. Refiro-me aqui especificamente a todos aqueles que, em seguimento dos acontecimentos recentes que levaram ao vazamento de uma quantidade quase irresponsável de informacoes relativas às actividades diplomáticas de uma grande nacao que continua a alimentar anseios hegemónicos, apesar de (ou talvez por isso mesmo) estar continuamente a perder influencia no campo geo-político de hoje, se preparam para apoiar um evento público de grande importancia, pelo menos nos próximos dois meses: "Support WikiLeaks". O mote do evento:

You can help support our independent media by donating financially or Share a Wikileaks release with a friend. Spread our wallpapers. Donate to support vital infrastructure. If you believe democracy and transparency go hand in hand, now is the time to stand and say: The world needs Wikileaks.

Pode parecer entediante eu voltar a postar sobre a WikiLeaks, mas é interessantíssimo acompanhar as reaccoes das mais variadas esferas da sociedade a este fenómeno, até porque fui convidada por uma das pessoas mais inconformadas com o tal "sistema" que conheco a participar no tal evento. Mas pergunto-me se este meu conhecido, que de resto a qualquer oportunidade ataca peremptoriamente a infra-estrutura social e económica construída no último século, nao se questiona sobre quem está a financiar as actividades desta organizacao. Enquanto esta questao nao estiver esclarecida, eu pessoalmente nao irei doar um centavo e o meu outing quanto ao apoio nao terá lugar. Nao pude deixar de esbocar um sorriso ao ler a palavra "transparencia" na mensagem do instigador do evento. Se a WikiLeaks atribui tanta importancia a esse factor, poderia comecar por si mesma.

30/11/10

Como se diz hipócrita em alemao II

Por vezes parece que antecipo acontecimentos. Acredito em coincidencias, mas também creio em causas e consequencias. O mundo revolta-se contra a forma ilícita com que Mr. Assange teve acesso a documentos altamente sensíveis e confidenciais, que nos mostram que o corpo diplomático disto a que chamamos países (eliminemos a ilusao de que este paradigma de accao se reduz aos norte-americanos) actua como se fossem servicos secretos. Nao se sabe quem, mas há figuras a ganhar muito dinheiro com todas estas transaccoes. Os que financiam, os que compram, os que vendem. Desconhece-se a rede deste vazamento, mas critica-se a forma pouco ortodoxa como funciona.
O mundo regozija-se com pormenores mesquinhos, os governantes sentem-se ultrajados e condenam, veementes, o facto de a organizacao WikiLeaks ter ilegitimamente adquirido as informacoes. Caso para pensar em atirar-lhes com um processo legal, afinal o que está por detrás da divulgacao de material altamente classificável sao actividades ilegais de bufos que vendem a sua e a alma dos outros.
Interessante coincidencia eu ontem ter conectado este a outro assunto: a compra recorrente por parte do Estado Alemao de CDs recheados de informacoes sobre clientes germanicos de bancos suícos. Hoje, o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha veio reconhecer a legalidade no uso dos dados financeiros obtidos através dos mesmos CDs, esses comprados a delinquentes, antigos funcionários de instituicoes bancárias, por forma a legitimar condenacoes de evasores fiscais. O que me leva a concluir que o órgao mais importante no sistema constitucional alemao apoia directamente actividades de criminosos que, aproveitando-se da sua posicao privilegiada como (ex-)trabalhadores em empresas que auxiliam o contribuinte a fiscalmente se evadir das manápulas fiscais do Estado comilao, vendem material informático que compromete os grandes milionários da nacao.
Tudo é possível por uma boa causa.