"A minha saudade da imensidao do teu ser alimenta-se da lembranca de ti, de mim, do nosso universo hermético. Esse universo, por onde apenas deixávamos perpassar réstias de luz e folia dos eleitos, aqueles com quem comunicávamos na linguagem que, por ser a mais pura, dispensava quaisquer palavras. A fusao perfeita de estados de alma, que me martiriza de tantas vezes concretizada no passado, e de tao intoleravelmente impossível no presente. O despir de todas as inibicoes-tabu, de todas as vestes de sentimentos de pudor e convencoes. A aceitacao do "eu" sem artifícios, o esquecimento hedonista dessa ideia egocentrica, o eterno retorno às origens, a atomizacao eclética de seres que se tornavam unos.
Eis o quotidiano desse nosso mundo, impalpável pois aquilo que de mais intenso existe é materialmente vazio. Ainda me surpreende a insolencia do destino, que tao abruptamente cruzou os nossos rumos, para despoticamente nos arrancar a plenitude entretanto alcancada através de sensacoes impolutas. Sao agora somente as memórias que me restam, translúcidas, dispersas, perenes, que me assolarao a existencia por muito mais do que o tempo que elas representam.
Recordar-te-ei, a ti que nao vejo mas sinto como parte pungente de mim, para todo o sempre, tal qual máquina do tempo, e deixarao de importar os anos, meses, dias, horas em que a eternidade for transformada. Tentarei eliminar a frustracao de nao abarcar algo a mim pertencente.
Sem essas memórias, esvar-se-iam o passado, aspirante a presente moribundo, a vida anterior, a vida interior. E o tempo deixaria de ser sentido."
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