24/11/10

A Jóia de Pandora

Momento epifanico do dia. Finalmente consegui entender o sucesso das pulseiras da marca dinamarquesa Pandora. Anos e anos tentei descortinar porque, em tempos de individualidade e originalidade, em que cada um se pode dar ao luxo de ser e ter aquilo que se coaduna consigo mesmo, há pessoas que insistem em adornar-se da mesmíssima forma, com as mesmíssimas pecas, produzidas em série para 31 países, ainda que em sequencias diversas mas com o mesmíssimo aspecto de todas as outras. Até móveis do Ikea ou mesmo vestuário da H&M conferem mais estilo do que os famigerados aros de pulso (quase tao idióticos como as anilhas que a convencao nos obriga a usar quando decidimos assinar um papel de efeito mais legal e menos emocional, ou nao será nem o papel nem a peca de joalheria - quanto maior, menor a intimidade de sentimentos, maior exibicionismo oco - a travar seja que decisao for, daí completamente supérfluos), com uma pecazinha da Vista Alegre ou da Stefanel consegue-se sempre disfarcar que fazemos parte da massificacao do baratuxo e atenuamos a consciencia pesada por estarmos, directamente, a apoiar modos produtivos exploradores em países terceiro-mundistas.
Ora, o fenómeno tem um sentido utilitário, principalmente em épocas de consumismo fascista como o Natal, o Dia dos Companheiros (ou Namorados, como se queira) ou os aniversários. Aposto que quem inventou a pulseira dos seguidistas foi alguém que nunca soube o que haveria de oferecer e sempre passou horas e horas a contemplar vitrines (sim, porque a maior parte está à espera que a resposta para algo original esteja fora e nao dentro de nós...) em busca DAQUELE presente que mais tenha a ver com a pessoa a quem ele se destina. Pim, fez-se luz, e porque nao criar uma jóia parecida à coleccao da Playmobil, com design e símbolos que cativem, mas que deem a sensacao de coleccao, do inatingível, do "nao se pode ter tudo de uma vez, assim se te portares bem, ofereco-te mais um!"? Mesmo que, após 20 ou 30 ocasioes, o objecto já esteja tao repleto de penduricalhos em forma de animais (ah, que fofura, e eu que gosto tanto de caes e borboletas!) ou coracoezinhos, pode sempre comprar-se o próximo e atafulhá-lo de panelas de pressao em miniatura ou paninhos da louca, que ficam tao giros em versao minúscula. Depois é como os cromos, encontram-se as amigas nos cafés e fazem trocas dos repetidos.
Um verdadeiro presente social, ora aí está.

Como na caixa de Pandora, resta-me a esperanca de que, um dia, tudo volte ao normal.

Sem comentários:

Enviar um comentário