01/12/10

Nao aos pesticidas!

Enquanto o mundo se deixa distrair pelas notícias catastrofais sobre o estado das nacoes, medido com base em indicadores económicos, vai sucedendo uma série de eventos alarmantes que nos deviam preocupar muito mais, mas aos quais a imprensa geral nao vai dispendendo a devida atencao. Ouvem-se continuamente vozinhas fracas, lá bem de longe, gota a gota, como se a medo por nos estarem a incomodar, alertando para alguns factos que efectivamente nos podem desgracar a existencia e nos arrastar para um estádio civilizacional em que nao só os meios financeiros ao final do mes como a possibilidade de subsistencia própria estarao esgotados. A notícia de que colónias inteiras de abelhas tem vindo continuamente a desaparecer, muito provavelmente devido ao uso indevido de um determinado tipo de pesticidas em grande massa produzido e comercializado pela Bayer, passou-nos literalmente despercebida. O desaparecimento deste tipo de insectos poderá ter consequencias dramáticas a nível do nosso ecosistema já que as abelhas sao os agentes mais importantes da polinizacao, o acto sexual das plantas espermatófitas, ou, simplificando, o processo de reproducao das próprias plantas. Em acréscimo, sabe-se que actualmente sao já 35% as colheitas agrícolas que dependem precisamente de agentes polinizadores. Como é geralmente conhecido, as abelhas produzem mel. Este produto, além de ser uma excelente fonte de energia natural, apresenta propriedades antimicrobianas e anti-sépticas, ajuda a cicatrizar e a prevenir infecções em feridas ou queimaduras. O mel é também utilizado largamente na cosmética devido às suas qualidades adstringentes e suavizantes. Outro produto que estes incansáveis insectos nos proporcionam é a própolis (ou própole), hoje utilizada com maior frequência na prevenção e tratamento de feridas e infecções da via oral, também como antimicótico e cicatrizante. Estudos mais recentes indicam eficiente acção de alguns de seus compostos activos com acção imuno-estimulante e antitumoral. A dimensao do problema vai-se tornando mais grave...

Os efeitos nefastos da utilizacao dos pesticidas ter-se-ao feito sentir igualmente na populacao de insectos, o que terá originado uma quebra insustentável na fonte de alimentos para pássaros. Efectivamente tem-se vindo a registar uma diminuicao substancial na populacao de pássaros só no espaco europeu. Na Gra-Bretanha, por exemplo, a populacao de pardais terá decrescido em 68% desde 1977, notando-se a mesma tendencia em outro tipo de pássaros de bosque e terras de cultivo. Bem diferente da estratégia de Mao nos anos 50*.
Imagine-se o impacto deste tipo de situacoes na manutencao do equilíbrio ambiental.

E a propósito de pássaros, hoje o Spiegel  noticiou que um determinado veneno ambiental pode alterar a estrutura hormonal de pássaros como o Íbis de tal forma que estes acabam por sofrer alteracoes comportamentais e se tornam homossexuais, quando expostos a altas concentracoes de um produto chamado Metil Mercúrio (libertado em consequencia de queimadas de resíduos que contenham mercúrio inorganico ou mesmo do uso de combustíveis fósseis como o carvao). Nao se trata de uma notícia de cariz empírico e sim baseada num estudo publicado em Outubro pela Royal Society. A propagacao da espécie estará seriamente ameacada.

Pequenos (grandes) sinais de que andamos mesmo a arriscar demais e a brincar com o nosso planeta como se nao tivesse de haver um amanha. Sendo assim, nao percebo qual o interesse racional de nos reproduzirmos, estando conscientes de que o planeta é único e está a ser irreparavelmente destruído a um passo alucinante. A natureza vinga-se.

*Alusao a mais um episódio negro da ditadura de Mao Tse Tung. Uma das muitas províncias agrícolas chinesas enfrentava problemas com o excesso de pardais, os quais atrapalhavam as colheitas ao se nutrirem das sementes plantadas. Ao tomar conhecimento do facto, o pragmático ditador terá dado ordens para que a população dizimasse todos estes pássaros usando qualquer tipo de estratégia ao alcance. Foi um grande massacre em nome da “caça ecológica”. Resultado: sem os pássaros, seus predadores naturais, os gafanhotos gozaram de condicoes propícias para arrasar com as plantações da província inteira, gerando um longo período de fome e miséria.

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