"Mercados" tornou-se uma das actuais palavras que compoem a ordem do dia. Aliás, já nao consigo imaginar o século XXI sem esta preciosidade. Referimo-nos a esta entidade como se fosse algo de impalpável, anónimo, impessoal. A este propósito refiro um artigo de opiniao de Ricardo Coelho:
"O deus do liberalismo económico chama-se “mercados”. A palavra escreve-se no plural mas diz respeito a uma única entidade, perfeita, omnisciente e quase omnipotente. Ninguém criou os “mercados”, garantia Medina Carreira num debate televisivo- porque no início, era o mercado. Temos de agradar aos “mercados”, jurava Campos e Cunha noutro debate – porque este é um deus vingativo. Os “mercados” exigem a austeridade, garantem-nos Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga – porque a purificação espiritual se atinge dando tudo aos “mercados”. "
No meio de tanto negativismo, associado a tempos que de nada tem de áureos, e numa tentativa de encontrarmos um bode expiatório que, a nível pessoal, nos seja muito alheio, talvez nos esquecamos de que esses tais de "mercados" sao agentes silenciosamente contratados pela grande maioria. Nao falo dos que nao tem capacidades económicas para consumir além do que possuem (rendimento = consumo básico) ou dos que nada possuem e consomem o que recebem pela generosidade alheia, mas sim de todos os que vivem a crédito, tem contas de poupanca com juros atractivos, directa ou indirectamente especulam na bolsa, se deixam seduzir por investimentos que apresentam remuneracoes acima da média. Os tais dos "mercados" actuam sob pressao, quanto mais bem-sucedidos junto dos seus clientes (os mencionados acima), mais bem remunerados serao. Nao, os mercados nao sao altruístas, no fundo trata-se da multiplicacao da riqueza (criada? virtual? sob a forma de dívida?), própria e alheia.
Num exercício de consciencia e congruencia pessoal, todos os que usam e abusam da palavra "mercados" num contexto de crítica deveriam repensar em que parcela se subjugam eles mesmos aos proveitos que essa entidade acarreta.
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