14/11/10

Critérios cibernéticos de avaliacao

Hoje preenchi uma candidatura virtual a um novo desafio. O local de trabalho seria na Alemanha, mas a organizacao é internacional. Foi-me simpático o facto de nao pedirem que adicionasse uma fotografia, como é usual quando alguém se candidata a uma posicao numa empresa alema. O povo germanico nao é muito receptivo quanto a surpresas e aprecia manter alguns preconceitos.
Tudo se processa com a maior das normalidades. Eis que chego ao segundo passo da plataforma e deparo-me pela primeira vez na minha vida - num contexto semelhante - com a seguinte questao: "Quanto mede?". Enquanto tento digeri-la, os meus olhos descem uns milímetros no ecra e leem a pergunta seguinte: "Quanto pesa?". A minha expressao de incredulidade nao me deixou por vários minutos. Estive mesmo prestes a fechar a janela e terminar o processo por ali. Entao a discriminacao nao se opera pela foto e sim pelo Body Mass Index? Engoli em seco e prossegui. Dei-me a conhecer, respondi a tudo o que me perguntaram, vencida pela necessidade e por uma incomensurável vontade de adquirir este emprego que me parece de sonho. O resto decorreu com a previsibilidade esperada, o estilo era estandardizado.
De qualquer forma, fiquei a ponderar sobre a relevancia deste tipo de informacao. Tudo o que se questiona serve para preencher determinados critérios pré-estabelecidos, seja esse a idade (acaba por ser igualmente discriminatório), a formacao académica ou as expectativas quanto ao salário. Mas peso e altura?? Lembrei-me de uma pessoa que conheco que se candidatou a um lugar efectivo na funcao pública alema (a qual, tal como em Portugal, dá direito a muitos privilégios e benesses, pelo menos enquanto o Estado Social for mantido) e foi recusada por ter peso a mais. A razao apresentada foi que essa pessoa, por pesar muito mais do que seria o devido (definido por alguém algures nao sei quando... se bem que a rapariga é tao gorda que mal consegue dar 10 passos sem ter que se sentar, queixando-se que vai sofrer de um colapso se nao comer qualquer coisinha nos segundos seguintes - e é uma que gosta de morangos com acucar, baaah!), apresentaria um risco de ausencias e faltas pois a sua condicao física poderia estar, de futuro, na causa de doencas, o que implicaria uma menor produtividade no trabalho. Brutal, nao? Será esta a razao? Já ouvi que este tipo de avaliacao é igualmente usado nos EUA (mais um país que, no ambito de candidaturas, prescinde de fotos, mas onde as pessoas sofrem de discriminacao pura e simplesmente pelo nome que tem, como analisaram os economistas autores de Freakonomics) e tem havido mesmo despedimentos com base em problemas relacionados com obesidade de empregados.
Chamem-lhes precavidos. Mas questiono-me a que ponto chegaremos se continuarmos a este ritmo. Já agora, um dia teremos que anexar, nao a foto (nao queremos cá acusacoes de racismo!), mas a ficha médica.

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